UMA ANÁLISE CRÍTICA DAS ESTRATÉGIAS DE EMPODERAMENTO DOS MOVIMENTOS FEMINISTAS BRASILEIROS A PARTIR DA LEI MARIA DA PENHA – LEI 11.340/2006

Autores

  • Débora de Lima Ferreira Gonçalves Cerqueira Faculdade Estácio do Recife

Resumo

É perceptível a crescente demanda legislativa criminalizadora da violência doméstica no Brasil. No ano de 1995, com a criação do Juizado Especial Criminal, ocorreu a facilitação do acesso à Justiça; movimentos feministas, no entanto, reagiram no sentido de afastar a Lei nº 9.099/95 no caso específico de violência doméstica, tendo em vista a aparente maleabilidade do regime dos Juizados. Surge, então, para atender anseios sociais, a Lei nº 11.340/2006, popularmente conhecida como “Lei Maria da Penha”, que, entre outros aspectos, introduziu um enrijecimento do sistema penal no tratamento da violência doméstica e familiar. Este artigo buscou compreender os anseios galgados pelos movimentos feministas e suas estratégias de empoderamento a partir da Lei Maria da Penha, bem como identificar as contribuições do feminismo negro e a questão da interseccionalidade. Foi utilizada a metodologia de revisão bibliográfica e aplicado o método indutivo, cuja aproximação dos fenômenos caminha geralmente para planos cada vez mais abrangentes, indo das constatações mais particulares às leis e teorias (conexão ascendente). Constatou-se que, na perspectiva de emancipação da mulher e seu respectivo empoderamento, o pleito dos movimentos feministas foi uma novel legislação – Lei nº 11.340/2006 – a título de equilíbrio, que pretendeu proteger a mulher nas situações em que ela possa ser fragilizada pela violência. Além de que esses movimentos baseiam-se em dois entendimentos dominantes um tanto contraditórios: o Direito Penal não é o meio adequado para a solução da violência doméstica e familiar contra a mulher; o Direito Penal é necessário para proteger os direitos e a integridade das mulheres. Ou seja, ao mesmo tempo que estes movimentos reconhecem a inadequação do Direito Penal e a necessidade de um tratamento diferenciado, não abrem mão da intervenção penal como forma de garantia e proteção.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Criminologia e feminismo: da mulher como vítima à mulher como sujeito. In: CAMPOS, Carmen Hein de (org.). Criminologia e Feminismo. Porto Alegre: Sulina, 1999a.

_____. A ilusão da segurança jurídica: do controle da violência a violência do controle penal. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003a.

_____. Vera Regina Pereira de. Sistema penal máximo x cidadania mínima: códigos de violência na era da globalização. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003b.

ÁVILA, Maria Betânia. Radicalização do Feminismo, Radicalização da Democracia. In: Cadernos de Crítica Feminista: reflexões feministas para transformação social. Recife: Oxfam e SOS Corpo, p. 6-11, 2007.

BARATTA, Alessandro. O paradigma do gênero: da questão criminal à questão humana. In: CAMPOS, Carmen Hein de (org.). Criminologia e feminismo. Porto Alegre: Sulina, 1999.

BILGE, Sirma. Théorisations féministes de l’intersectionnalité. Diogène, 2009.

CAMPOS, Carmen Hein de. Juizados Especiais Criminais e seu déficit teórico. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 11, n. 1, jan./Jun, 2003. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104026X2003000100009&script=sci_arttext>. Acesso em 17 nov. 2015.

CAMURÇA, Sílvia. “Nós mulheres” e nossa experiência comum. In: Cadernos de Crítica Feminista: reflexões feministas para transformação social. Recife: Oxfam e SOS Corpo, p. 12-23, 2007.

CARDOSO, Cláudia Pons. Amefricanizando o feminismo: o pensamento de Lélia Gonzalez. Revista Estudos Feministas, v. 22, n. 3, p. 965 – 986, 2014.

CARNEIRO, Sueli. Mulheres em movimento. In: Estudos Avançados, v. 17, n. 49, 2003.

CELMER, Elisa Girotti. Feminismos, discurso criminológico e demanda punitiva: uma análise do discurso de integrantes de organizações não governamentais feministas sobre a lei 11.340/06. 1. ed. Curitiba: Editora CRV, 2015.

CRENSHAW, Kimberle. Mapping the Margins: Intersectionality, Identity Politics and Violence against Women of Color. In: Stanford Law Review. Vol. 43, n. 6, p. 1241-1299, 1991.

CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Violência Doméstica. Lei Maria da Penha comentada artigo por artigo. São Paulo: Ed. RT, 2009.

GONZALEZ, Lélia. O papel da mulher negra na sociedade brasileira. Symposium the Political Economy of the Black World. Los Angeles. 1979.

GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afrolatinoamericano. Disponível em: http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/271077/mod_resource/content/1/Por%20um%20feminismo%20Afro-latino-americano.pdf. Acessado em 16 de setembro de 2015.

_____. O papel da mulher negra na sociedade brasileira. Symposium the Political Economy of the Black World. Los Angeles. 1979.

DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.

IZUMINO, Wânia Pasinato. Delegacias de defesa da mulher e juizados especiais criminais: contribuições para a consolidação de uma cidadania de gênero. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 10, n. 40, p. 282-295, 2002.

LARANJEIRA, Márcia. Gênero e Mobilização de Recursos: reflexões para um debate. Recife, Oxfam e SOS Corpo, 2008.

LAURRARI, Elena. La intervencion penal para resolver un problema social. Revista Argentina de Teoria Jurídica, Buenos Aires, v. 11, n. 1, p. 01-22, ago., 2011.

MALAGUTI BATISTA, Vera. O medo na cidade do Rio de Janeiro: dois tempos de uma história. 2. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2003a.

MANINI, Daniela. A crítica feminista à modernidade e o projeto feminista no Brasil dos anos 70 e 80. Disponível em: http://www.ifch.unicamp.br/ael/website-ael_publicacoes/cad-3/Artigo-2-p45.pdf. Acessado em 17 de julho de 2014.

MEDEIROS; Carolina Salazar de; MELLO, Marília Montenegro Pessoa de. O simbolismo da Lei “Maria da Penha” no enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher. Disponível em: http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/cienciascriminais/IV/41.pdf. Acessado em 19 de outubro de 2015.

MELLO, Marília Montenegro Pessoa de. Da honestidade à igualdade: desconstruindo a classificação das mulheres na legislação penal brasileira. Ciências Criminais no Século XXI – Estudos em homenagem aos 180 anos da Faculdade de Direito do Recife, Recife, p. 439-483, 2007.

_____. Lei de violência doméstica: Lei nº 11.340/2006. In: DAOUN, Alexandre Jean; FLORÊNCIO FILHO, Marco Aurélio (Coord.). Leis penais comentadas. São Paulo: Quartier Latin, 2009.

_____. Lei Maria da Penha: uma análise criminológico-crítica. 1. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2015.

MORAES, Aparecida Fonseca; BILA, Sorj. Os paradoxos da expansão dos direitos das mulheres no Brasil. In: MORAES, Aparecida F.; SORJ, Bila (Org.). Gênero, Violência e Direitos na Sociedade Brasileira. Rio de Janeiro: Sete Letras, p. 10-22, 2009.

PITANGUY, Jacqueline. As mulheres e a Constituição de 1988. Disponível em: www.cepia.org.br/images/nov089.pdf - Acesso em 19∕09∕2015.

ROMEIRO, Julieta. A Lei Maria da Penha e os desafios da institucionalização da “violência conjugal” no Brasil. In: MORAES, Aparecida F.; SORJ, Bila (Org.). Gênero, Violência e Direitos na Sociedade Brasileira. Rio de Janeiro: Sete Letras, p. 49-74, 2009.

RORIZ, Regina, Célia Lopes Lustosa. Mulher, Direito Penal e Justiça Restaurativa: da proteção simbólica revitimizante à possibilidade da restauração. Dissertação (Mestrado em Direito) Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2010.

SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. Gênero, Patriarcado, Violência. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004.

SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade. Porto Alegre: UFRGS, 1990.

TELES, Maria Amélia de Almeida. MELO, Mônica de. O que é violência contra a mulher. São Paulo: Brasiliense, 2003.

Publicado

2024-12-11

Como Citar

Cerqueira, D. de L. F. G. (2024). UMA ANÁLISE CRÍTICA DAS ESTRATÉGIAS DE EMPODERAMENTO DOS MOVIMENTOS FEMINISTAS BRASILEIROS A PARTIR DA LEI MARIA DA PENHA – LEI 11.340/2006. Revista Eletrônica Da Estácio Recife, 11(2). Obtido de https://reer.emnuvens.com.br/reer/article/view/806